quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Dois anos após Rio-2016, gastos com manutenção chegam a R$ 44 milhões

 Carol Oliveira Castro
O Globo

Custo é dividido entre governos municipal e federal e não absorvido pela iniciativa privada

Custódio Coimbra / Agência O Globo
Refletido em enorme poça d’água de um canteiro sem flores e árvores, 
o Estádio Aquático deveria ter sido desmontando há mais de um ano 

Neste domingo, completam-se dois anos do início dos Jogos Olímpicos do Rio. Se o evento passou de forma rápida para os cariocas e deixou saudades, suas contas e o destino de seu legado parecem demorar um pouco demais. E a custar mais também. É fato que boa parte das estruturas está sendo usada e tendo a sua manutenção feita. Mas não foi para a iniciativa privada, como foi anunciado pela prefeitura, e com isso, já foram gastos quase R$ 45 milhões do dinheiro público para a manutenção das estruturas, divididos entre governos municipal e federal.

Desde de abril do ano passado, depois que uma licitação para a manutenção e exploração fracassou, o governo federal assumiu o Centro Olímpico de Tênis, as Arenas Cariocas 1 e 2, o Velódromo (para onde transferiu seus escritórios no Rio) e subsidia parte da manutenção das estruturas que ficaram com o Exército (Centro de Tiro, Hipismo e Arena da Juventude). Já a prefeitura cuida do Parque de Deodoro (canoagem Slalom e pista de BMX) e da Arena Carioca 3. E deveria ter desmontado e dado destino às estruturas temporárias do Estádio Aquático e da Arena do Futuro, que deveria ter servido de base para a construção de quatro escolas no Rio.

Por falta de dinheiro, o município chegou a anunciar que não conseguiria fazer as obras. No entanto, em maio, a prefeitura assinou contrato com a de Duque de Caxias. Agora, as escolas serão construídas no município vizinho.

As piscinas estão desmontadas e em posse do Exército. A estrutura do local não tem destino. Atualmente, serve de depósito para tabelas de basquete e restos de materiais do Rock in Rio.

DÍVIDA DO RIO-2016 SÓ AUMENTA

O Comitê Organizador Rio-2016 ainda se vê atolado em dívidas e sem perspectiva de quitá-las. O prejuízo auditado em dezembro de 2016 era de R$ 132 milhões e, contando apenas a taxa Selic, estaria em R$ 152 milhões. No entanto, fontes no comitê garantem que já está perto dos R$ 200 milhões. A tendência é que esse número só cresça. Em 2020, dívida deve começar a ser paga pelos governos do Rio (municipais e estadual).

O comitê, hoje com nove membros e comandado por Ricardo Trade — homem- forte da Copa-2014 e responsável por reestruturar a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) — não tem fonte de renda. Todos os patrocinadores dos Jogos do Rio já pagaram suas cotas, e o Comitê Olímpico Internacional, que promete uma eventual ajuda financeira, ainda reluta em fazê-la. Com isso, os governos deverão ser acionados, como determinam as garantias. Na assinatura do termo de candidatura, os três governos — municipal, estadual e federal — prometeram cobrir as eventuais despesas, caso as contas do Comitê terminassem no vermelho. No meio do caminho, a então presidente Dilma Rousseff retirou essa garantia do governo federal por emenda, sobrando assim para a prefeitura e o governo estadual o ônus da conta do comitê.

Mesmo tendo direito de cobrar por contrato, o Rio-2016 só deve fazê-lo na época de sua dissolução. O que só pode acontecer quando a Justiça terminar de julgar os 242 processos trabalhistas aos quais responde, cuja previsão é de acontecer nos próximos três anos.

No entanto, a cobrança não é simples. O COI entende que essas garantias devem ser acionadas pelo Rio-2016, que por sua vez entende que a responsabilidade é do próprio COI. Isso, pode gerar nova briga jurídica. O fato é que, se cobrado, os governos terão de arcar com as dívidas. Até lá, o comitê negocia o débito com os credores.


QUE FIM LEVOU:

 - Agência Tempo / Agência O Globo
Flamengo e Vasco, pelo Novo Basquete Brasil, na Arena Carioca 1 

Arenas Cariocas 1 e 2 . Receberam juntas 61 eventos dos mais diversos esportes e foi a casa do basquete no Rio.

Velódromo. Teve 16 eventos, mas apenas três de ciclismo. Tem a conta de luz mais alta das arenas, ao custo de R$ 200 mil.

Centro de Tênis. Teve 14 eventos, seis de tênis e tem um projeto social da modalidade. O Rio Open não foi disputado lá.

Parque de Radical. Recebe escolinhas de slalom e o público tem acesso de terça a domingo. A manutenção custa R$ 2 mi/ano.

Arena Carioca 3. Recebeu 21 eventos e tem escolinhas da prefeitura. Além disso, foi usado em ações da prefeitura.

RioCentro. Devolvido à iniciativa privada, que tem dificuldades para de alugar. Sofreu incêndio em um de seus pavilhões.

Arena do Futuro. Será desmontado e sua estrutura servirá de base para a construção no município de Duque Caxias.

Arena da Juventude. Está sob tutela do Exército e teve 23 eventos nesse período, muitos voltados para as Forças Armadas.

Estádio Aquático. Teve sua piscina desmontada, e a estrutura do estádio permanece no Parque Olímpico, sem destino.

IBC e MPC. Estúdios de TV e um prédio de escritórios pertencem à iniciativa privada, mas está vazio. Há desvalorização da região.

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